Sacrifícios humanos e o morto que volta: com Felipe Castilho
Felipe Castilho fala de "Serpentário", um suspense sobrenatural sobre os corpos que sacrificamos pelo caminho para manter nossos frágeis pactos sociais
Oi! Se você é chegou recentemente por aqui talvez não saiba que a Encruza traz edições especiais na forma de podcast. Ao longo dos episódios converso com autores sobre suas obras para investigar a presença do horror nas narrativas brasileiras. Minha maneira de explorar o horror como uma abordagem narrativa que vai além do gênero e trazer esse debate para livros que não costumam ser lidos através dessa lente. Ou seja, eu bagunçando o parquinho.
A ideia original era publicar os episódios uma vez por mês intercalando-os com a encruza padrão, mas além da questão da verba para edição ser curta percebi que o público de newsletter não necessariamente se interessa por podcast. Cada episódio enviado levou uma pá de gente a cancelar a assinatura, juro procês.
É aquela conversa, se você cria um canal que fala sobre noivas que jogam futebol você não terá necessariamente o público que se interessa por noivas somado ao público que se interessa por futebol.
Por essas e outras, acabei pisando no freio.
Mas isso não muda o fato de que tenho imenso carinho pelo projeto. Gravar um podcast com essa proposta de arquivo para posteridade era um desejo antigo meu e fico feliz de tê-lo realizado. Se tem uma coisa que aprendi na vida foi respeitar meus desejos. Sem desejo a gente não se move, não sai do lugar. Espero em 2024 trazer mais uma rodada de conversas para vocês.
Quatro autores de propostas diferentes entre si, quatro autores que admiro e recomendo sem pensar duas vezes.
Para encerrar o ano, trago então o último encontro na encruzilhada de 2023, uma conversa com Felipe Castilho sobre seu romance Serpentário, um dos romances de horror mais intrigantes da nossa safra recente. De bônus, ao final do episódio conversamos também sobre Guarás: A Outra Margem. O quadrinho parte da história real de uma pessoa que saía do seu carro para espantar lobos-guarás na beira das estradas e assim evitar atropelamentos. Castilho imagina como seria para os guarás ver aquela criatura em duas patas sacudindo os braços e cria uma história de beleza poética que constrói mitos próprios para um dos bichos mais emblemáticos da fauna brasileira.
Um Yin-Yang das possibilidades do horror.
Obrigado a todos que se inscreveram recentemente na Encruza Criativa, uma newsletter sobre literatura, arte e a vida do ponto de vista de um autor queer. Obrigado também a quem me acompanha desde sempre, quando newsletter ainda era um bicho estranho nos mares da internet. Espero que gostem da conversa, dos livros recomendados, e que continuemos a nos encontrar por aqui em 2024.
Sem mais delongas, solta o vetê!
No episódio 05 - Sacrifícios humanos e o morto que volta - a Encruza recebe Felipe Castilho para falar de “Serpentário”, romance sobrenatural passado no litoral norte de São Paulo, finalista do prêmio Jabuti. Enquanto nos leva a desvendar o que teria acontecido com um grupo de jovens ao visitar a misteriosa Ilha das Cobras e escapar dela por um fio, Castilho explora os pactos de morte que sustentam nosso modo de vida, sejam pactos religiosos ou sociais, e o que acontece quando um dos corpos sacrificados nesse altar decide voltar para cobrar o preço.
O papo passa por temas como pacto da classe média, a influência de Stephen King, terapia de conversão, lobos-guarás, nazismo no Brasil, e mais.
A Encruza Criativa Podcast tem como eixo investigar espectralidades e o horror social nas narrativas brasileiras. Você encontra o programa nos seguintes streamings e agregadores:
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“A vida é um carro em alta velocidade, e somos apenas passageiros no veículo do Senhor Jesus Cristo enquanto observamos a paisagem pela janela mudando constantemente.” Era uma frase enorme, mas que agora era exibida no vidro do SUV branco de seu pai, em um adesivo com uma tipografia que traria lágrimas aos olhos de qualquer designer.
Para Caroline, se Cristo dirigia seu carro, era porque a situação andava tão complicada que até o Cordeiro de Deus precisava ganhar um extra como Uber enquanto não chegava o momento de sua Segunda Vinda. Afinal, depois de expiar os pecados da humanidade, você fica meio sem ter o que fazer mesmo. Então, para ela, Cristo poderia muito bem dirigir o carro de uma mulher fracassada, desempregada e rejeitada pela família — a mesma família que havia colocado o automóvel nas mãos de Jesus.
Felipe Castilho é autor e roteirista. Estreou como escritor com o livro Ouro, Fogo e Megabytes, o primeiro da tetralogia de fantasia urbana O Legado Folclórico, voltada para o público infanto-juvenil, e se tornou best-seller com a fantasia “Ordem Vermelha: Filhos da Degradação”, uma parceria com a CCXP. Nos quadrinhos, concorreu ao Jabuti com Savana de Pedra e fez barulho com a alta fantasia Os desafiadores do destino.
Sobre Serpentário: Todo ano, Caroline, Mariana e Hélio costumavam deixar a capital paulista para encontrar Paulo, um jovem habituado à simples vida caiçara. No entanto, a amizade construída nas areias do litoral sofreu abalos sísmicos no Réveillon de 1999, quando algo tão inquietante quanto o bug do milênio abriu caminho para uma misteriosa ilha que despontava no horizonte, e explorá-la talvez não tenha sido a melhor decisão. Para escapar da ilha, um deles precisará ficar para trás. E os amigos não tem dúvidas de quem deve ser o sacrifício.
Entre memórias e fatos fragmentados, o que aconteceu naquela fatídica noite se tornou um mistério. Mas de algumas coisas eles se lembram perfeitamente: uma enorme e ameaçadora serpente, além de uma pessoa sendo entregue ao ninho da víbora, um sacrifício sem chance de recusa.
Sacrifícios humanos e o morto que volta: com Felipe Castilho
ericnovello.substack.com
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Encruza Criativa é um combo de newsletter + podcast onde literatura, arte e política se encontram. No podcast converso com pessoas criativas sobre livros e outras formas de arte pensando em como elas dialogam com o Brasil contemporâneo.
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Sacrifícios humanos e o morto que volta: com Felipe Castilho