Clássicos para conhecer Stephen King
Uma edição dedicada a Stephen King, Cupim e contos de horror
A Encruza é uma newsletter de conteúdo aberto e gratuito. Você pode apoiá-la com diferentes valores mensais no APOIA-SE ou pelo próprio Substack. Para adquirir meus livros, visite ericnovello.com e descubra a melhor loja para você.
Meu top 5 do Stephen King
A editora Suma acaba de lançar o livro Dolores Claiborne. Ele sai pela coleção Biblioteca Stephen King, que reedita os clássicos do autor estadunidense de terror em capa dura. Se eu tivesse que escolher um único livro do King para recomendar a alguém, escolheria esse. Segue um resumo que entrega o mínimo possível: A história traz Dolores sendo acusada de assassinato quando a senhora desagradável para quem trabalhava como empregada doméstica morre de maneira meio suspeita. O xerife local não pensa duas vezes e decreta que ela é culpada. Isso por conta de um ranço que ele nutre pela protagonista há anos devido a um caso antigo não solucionado. Então, para tentar se livrar da acusação pela morte da ex-chefe, Dolores faz um acordo com o xerife: revirar o passado e contar tudo o que ele sempre quis saber sobre o antigo caso.
Sou da opinião que as melhores histórias do King são as mais concisas e com um pé mais firme no cotidiano, mesmo quando bebem do insólito. Algo mais comum no início da carreia dele. Aproveito a ocasião do lançamento da nova edição de Dolores Claiborne para deixar meu top 5 livros de histórias curtas desse autor que na sua mistura de suspense, drama e horror se tornou um gênero próprio:
Dolores Claiborne - Suspense maroto com duas linhas temporais centrado em como a sociedade estadunidense costuma tratar as mulheres. E em como mulheres às vezes dão o troco ;). A nova tradução é de Regiane Winarski, responsável por uma penca de traduções do King no Brasil.
Carrie - Clássico absoluto. Uma menina com telecinesia que sofre bullying na escola e tem uma mãe fanática religiosa que a reprime de todas as maneiras possíveis e imaginárias encontra um jeito bem peculiar de lidar com a situação :) Acho que todo adolescente queer se identifica com Carrie em alguma medida. Fácil fácil uma das melhores catarses da literatura e do cinema. É um marco na literatura do King também pelo jeito como ele brinca com a forma, algo incomum para o autor.
Misery: Louca Obsessão - Um escritor que estava recluso escrevendo seu novo livro sofre um acidente de carro num dia de nevasca e é resgatado por sua fã número um. Levado desacordado para a casa dela, o que de início parecia ser um abrigo logo vai se revelando um cativeiro. (Seu Zé me livre e guarde, amém).
Quatro Estações - Esse é um pouco de trapaça da minha parte, porque o livro é grande, mas ao mesmo tempo podemos considerá-lo um quatro em um, já que ele traz quatro novelas independentes entre si, uma passada em cada estação, três delas já adaptadas para o cinema. A primeira noveleta rendeu o drama Um sonho de liberdade sobre a vida nada fácil de um preso na cadeia. O King foi muito ninja nessa, o diretor do filme idem. A segunda gerou o suspense indie O Aprendiz, que fala de um jovem que suspeita que seu vizinho seja um nazista foragido e acaba entrando num jogo psicológico com o cara. É o famoso “cutucar a onça com vara curta”, mas com um plot twist. O terceiro virou o clássico de sessão da tarde Conta Comigo no qual um grupo de amigos pré-adolescentes entra numa aventura para ver de perto um cadáver que apareceu no meio da mata (foi a primeira vez que chorei com uma leitura!). Gosto como exemplo de que premissas simples podem render histórias incríveis. A quarta novela meio que está lá só pra cumprir tabela (justo a que une livros e um elemento insólito).
O Cemitério (Maldito) - Se não fosse o quesito número de páginas, o certo seria incluir IT, a obra-prima do Stephen King, nessa lista. Sério, qual fã de horror não conhece o palhacito Pennywise? Mas como IT é compromisso de leitura para um ano inteiro, desses pra ler ouvindo “feliz aniversário, envelheço na cidade”, vou de relação afetiva e fechar com O Cemitério. Uma família se muda para uma nova casa perto de uma autoestrada, um acidente terrível acontece. O enterro se dá num cemitério com a capacidade de devolver aquilo que é deixado em suas terras. Além de uma história sobre luto é um baita exercício de suspense e horror.
Já leu algum desses? Incluiria outro na lista? Comenta comigo por e-mail ou nos comentários.
Cupim, de Layla Martínez
"O que meu pai não sabia era que ia ficar preso no cárcere que estava construindo. Minha mãe, quando percebeu que nunca ia poder sair daquela casa, parou de pedir aos santos e começou a conversar com as sombras".
"Família é isso, um lugar onde lhe dão teto e comida em troca de você ficar presa com um punhado de vivos e outro de mortos. Todas as famílias têm seus mortos embaixo das camas, só que nós vemos os nossos". - do livro Cupim, de Layla Martínez. Lançamento da Alfaguara, com tradução de Joana Angélica d’Ávila Melo.
Indo para um tipo de horror totalmente diferente, terminei de ler Cupim, da escritora espanhola Layla Martínez. Simples, enxuto e muito bem executado, tem seu charme para quem gosta de forma, de um texto mais literário e também para quem curte elementos de horror. Ou seja, prato cheio.
Cupim é uma história que atravessa diferentes gerações de mulheres de uma mesma família, todas condenadas a viver dentro de uma casa "assombrada". No caso, literalmente cheia de sombras. A história é contada por narradoras nem um pouco confiáveis que vão nos dando as peças do quebra-cabeça e deixam o encaixe por nossa conta. Nesse jogo de ir conhecendo e comparando as versões de cada uma delas um panorama social e familiar maior se revela. É impressionante a capacidade da autora de falar tanto em tão poucas páginas.
Algo que me chamou atenção em Cupim foi o fato de Layla Martínez usar o horror para falar de machismo e de ódio de classe sem medo de brincar com as ferramentas propiciadas pelo gênero. Às vezes sinto que alguns autores contemporâneos flertam com horror, ficção científica e fantasia, mas com um limite autoimposto, como se cruzar uma determinada linha durante a escrita diminuísse o valor do texto. É um gostar, mas com um distanciamento que beira o desdém. Leem autores clássicos, gostam de Philip K Dick e até da farofa do Stephen King, mas na hora de escrever só sujam a ponta dos dedos. Não sei se é medo de que isso possa afetar a recepção dos seus textos pelo “mercado” ou se é um olhar enviesado da literatura de gênero desde si. Um “gosto, mas é guilty pleasure". Já a Layla Martínez vai lá e povoa o livro com sombras, maldições e santos escabrosos. Consegue tornar os elementos do horror algo dela sem precisar olhar esse horror de cima para baixo.
Na minha humilde opinião, se alguém vai publicar uma ficção científica não deve dizer que despreza o gênero ou que a literatura produzida dentro dele é de segunda classe. Se alguém vai escrever um livro de horror deve ler livros de horror, de preferência conhecer a produção contemporânea, e não ficar só nos filmes (ainda mais os hollywoodianos). Se alguém nunca lê fantasia, não tem conhecimento para opinar sobre a qualidade de livros de fantasia.
Quer conhecer mais e não sabe por onde começar? Tenho certeza de que não faltam autores brasileiros de insólito dispostos a ajudar no passeio.
E se você gostou da proposta de Cupim, aproveite para ler minha lista de indicações de livros de horror latino-americano:
Contos, contos, contos
Para fechar essa edição literária, indico dois contos publicados aqui no próprio Substack, ambos com acesso gratuito. “Olho de vidro”, do
, e “O verso é sempre entranha”, da.Olho de vidro, curtinho, foi originalmente publicado no suplemento cultural paraibano Correio das Artes.
Já O verso é sempre entranha, mais encorpado, foi originalmente publicado na revista gringa de horror The Dark.
Um abraço
e até a próxima encruza,
Eric Novello
Amei o top de King. Já botei na lista os que ainda não li.
"projeto para um ano"
eu levei 5 anos lendo It.
🤡